A raiz do
preconceito por alguém que tem uma outra orientação sexual explica-se
pelo fato de não haver controle sobre o prazer dessa pessoa. A
banalização do prazer heterossexual ou até mesmo a ausência dele, faz
com que haja um desejo inconsciente de que esse alguém que não
compartilha o mesmo desejo seja condenado a ser ainda mais infeliz, por
sua orientação sexual e a maneira como busca o prazer. É uma forma de
amenizar a própria insatisfação.O preconceito contra o homossexual
espelha a incapacidade de lidar com a própria miséria afetiva, além de
mostrar a vulnerabilidade da heterossexualidade; não que as pessoas
estejam se tornando gays por tais fatores, mas que há, atualmente, um
grande hiato no relacionamento entre homens e mulheres, e o mesmo acaba
sendo preenchido com ódio contra todos que não seguirem determinado
padrão.
Acho que
poucos homossexais frequëntam sessões de terapia por temerem situações
embaraçosas como um psicólogo que lhes proponha a conversão para a
heterossexualidade ou que os trate como doentes mentais. A própria
psicologia lidou de certa forma com preconceito e indignação perante o
tema; o que historicamente só agravou o estado emocional do paciente. O
homossexual precisa enxergar a terapia como uma forma de harmonizar seus
interesses com os da sociedade e vice-versa, para assim otimizar a sua
vida emocional e sexual. É uma forma de compreender e ser compreendido.
Ninguém está certo ou errado. Os dois lados só precisam se entender na
nebulosa e árdua tarefa da satisfação sexual, adotando um diálogo
totalmente franco e radical no sentido de se alcançar maior segurança
emocional, o que infelizmente não ocorre nas conversas corriqueiras do
âmbito social.
Este texto têm
apenas o caráter de reflexão, sendo que foi baseado na experiência
clínica, não tendo nenhuma conotação normativa ou taxativa sobre o
assunto. O enfoque será totalmente na homossexualidade masculina.
A primeira conclusão do tema para a pessoa realmente honesta é como
cada ser humano expõe sua parte homossexual propriamente dita, sendo um
completo tabu a discussão de tal questão. Seja biológica ou
psiquicamente, todos sabemos que possuímos traços masculinos e femininos
que serão desenvolvidos e reforçados perante a tutela de um sistema de
valores sociais. Obviamente o sistema vigente condena a prática
homossexual e todo o desejo resultante da mesma, lançando estigma e
culpa no mais alto grau perante uma pessoa. O interessante é notar como
outras questões sexuais são absolutamente desprezadas ou negadas, apenas
por não terem qualquer prova de que algumas fantasias sexuais, avançam
a certeza de uma determinada escolha sexual. Um exemplo disto é o fato
de que qualquer pessoa que já trabalhou com a questão da prostituição
feminina, sabe que uma das fantasias preferidas pelos homens nos
prostíbulos é ser dominado e estimulado via anal por uma mulher, sendo
tal fantasia uma forma de realizar seu desejo de dominação pela mesma,
seguindo o mesmo caminho ou trilha de uma prática parecida com a
homossexual,através de uma maneira que não lhe recaia toda a culpa.
Outra variante passiva é ficar extremamente dependente de um
relacionamento, ou o ciúmes exacerbado. Se pensarmos em termos
de relações e prazer, o homossexual não deixa de ser para o
heterossexual, a nível simbólico, uma mulher ideal no imaginário
masculino; alguém sem nenhuma culpa ou receio do prazer sexual, e que
procura incansavelmente o mesmo; além do que, sexo é uma primazia, e não
um jogo de sedução confuso e subliminar.Uma das raízes da repulsa, se
encontra exatamente neste ponto, pela descoberta de que outra orientação
sexual talvez esteja mais avançada ou ousada no tocante ao prazer.
Um dos grandes erros da compreensão da homossexualidade, foi justamente
se concentrar no estudo das causas, se esquecendo de sua dinâmica. Pouco
importa se o homossexual é alguém totalmente fixado na figura materna,
como diz a psicanálise, desejando se tornar uma mulher, à fim de se
identificar com a maneira pela qual sua mãe lhe proporcionou afeto e
amor; ou então, a teoria de CARL GUSTAV JUNG, de que possuímos duas
energias sexuais: anima( energia feminina no homem), e ânimus( energia
masculina na mulher), sendo que a homossexualidade seria a sobrecarga de
uma destas na pessoa. O fato em questão, é que o homossexual assumiu
por completo seu desejo de alguém totalmente semelhante para a entrega
sexual, estando totalmente enamorado de si mesmo. Necessita através do
outro ver e reviver o prazer com o próprio gozo, mas não em termos
masturbatórios, mas alguém que espelhe sua maneira peculiar de obter
prazer. Aqui podemos falar do tão propalado conceito do narcisismo,
embora a conotação que se dá ao mesmo é pejorativa, quando se trata da
homossexualidade. O interessante é que ninguém critica a busca
desenfreada pela beleza e estética, sendo que a mesma têm a mesma raiz
de vaidade e narcisismo, se tornando um produto extremamente solicitado.
Se pensarmos na tensão constante das relações entre homens e mulheres,
teremos aqui não uma explicação para a prática homossexual, mas, uma
reflexão de que para algumas pessoas a excitação se encontra em sua
própria imagem projetada em outra pessoa. O homossexual é
representado via de regra como alguém que possui traços ou trejeitos
femininos, sendo uma mulher travestida em um corpo masculino. Embora
isto ocorra, temos de enxergar que nosso sistema de valores obriga tal
fato, sendo que alguém que têm comportamento sexual diferenciado, deve
representar tal papel. Assim sendo, se determinada pessoa adquirir um
traço feminilizado, será de certa forma aceita em sua comunidade, já que
será objeto de curiosidade ou entretenimento para os demais. Em
determinadas culturas primitivas, a homossexualidade era tolerada desde
que a pessoa exercesse as mesmas funções de uma mulher. Há uma tentativa
de se imputar o papel irônico ou de deboche na escolha sexual,
desviando a atenção da essência da questão. Logicamente estou falando da
expectativa do preconceito vigente, jamais analisando como determinada
pessoa deveria se portar. O fato é que a sociedade necessita vestir uma
"saia" no homossexual, renegando por completo aquele ser que almeja seu
gozo por pessoas do mesmo sexo. Então se conclui que um homossexual com
características femininas é feliz pela alegria de sua opção, gay, que em
inglês, significa alegre. Qualquer outra representação é vista como
escondida ou carregada de conflito ou tristeza pura. O homossexual com
traços masculinos é visto como uma pessoa que precisa viver eternamente
como se tivesse cometido algum tipo de crime;também é visto como uma
terrível ameaça, pois, é um homem comum que coloca em risco nossa
certeza heterossexual, sendo que há um perigo extremo de que o mesmo
possa despertar nossa curiosidade para outra prática sexual. Se
pensarmos historicamente na cobrança pela sociedade de que o homossexual
deva assumir sua condição, concluiremos que tal exigência têm o único
intuito de rotulação e estigmatização, pois ninguém exige que um
heterossexual assuma publicamente suas fantasias sexuais. Novamente
falando em preconceito, o "assumir", possui para a sociedade o pretexto
para a futura condenação e segregação.
A
questão homossexual não deixa de ser uma das mais árduas batalhas por
determinado tipo de prazer, sendo que a orientação para determinado
gozo, implicará numa gama enorme de culpa e vergonha por tal
iniciativa. A sociedade trata o homossexual como se o mesmo estivesse em
um tribunal, tornando público seu mais íntimo desejo privado. O
que mais incomoda, não é lidar apenas com a ironia perante a diferença,
mas, principalmente o olhar de espanto e indignação. A questão que
deveria ser objeto de debate e análise não é determinada prática sexual,
mas quantos ainda conseguem investir afetivamente em determinado
parceiro; quantos ainda são capazes realmente de amar uma pessoa. Para
um melhor entendimento e compreensão da escolha homossexual, os pais
deveriam ter em mente que jamais deveriam sentir culpa ou vergonha por
um filho com uma outra orientação sexual, mas, que o valor real da
criação e educação é a capacidade de uma pessoa ser independente; saber
sobreviver e viver em nossos mundo; desenvolver potencialidades que a
conduzam numa satisfação por sua criatividade e certeza de contribuir
para uma melhora do coletivo em geral. O homossexual jamais pediu a
benção da sociedade para seu gozo ou prazer sexual, mas, tão somente,
que seu caráter jamais seja julgado por seu desejo. Este talvez seja o
maior desafio para o presente e futuro das relações sociais.
Não deixa de
ser curiosa a posição de quase todas as religiões contra a prática
homossexual. Pois tal fato, além de contrariar um princípio básico
bíblico: "amai-vos uns aos outros", sendo que não há referências hetero
ou homoeróticas, mas sim o princípio genérico. O fato é que tudo isto
esconde que dito mandamento jamais foi e será seguido, enquanto o
próprio ser humano não perceber que sempre esteve preso no amor
estritamente condicionado, seja à sexualidade, poder ou dinheiro. É uma
extrema tolice achar que a homossexualidade é uma opção, pois, ninguém
opta por algo que causa tanta consternação, mas, há uma mobilização
afetiva e sexual, causada por fatores biopsíquicos e histórico pessoal
de vida, que conduzem a pessoa para determinada excitação. Seria
interessante uma vez na vida, as religiões tentarem verdadeiramente
compreenderem outras formas de amor e prazer, do que a insistência em
dogmas rígidos, que como disse antes, quase nunca são seguidos. a
homossexualidade masculina é um tema que leva o autor
para o fio da navalha: se escrever profunda e acertadamente também
recairão sobre ele as suspeitas e
preconceitos da sociedade. A melhor abordagem será mesmo tratar a
homossexualidade como uma
das variadas gamas da sexualidade humana.Precisamos entender que a
natureza humana não pode ser comparada a prisão do condicionamento, como
ocorre na vida de insetos ou outros animais, onde determinado
comportamento sexual apenas serve à perpetuação da espécie. O prazer
humano é questão totalmente distinta e singular,servindo a outros
objetivos mais vastos, do que a simples reprodução de uma espécie. Assim
sendo, a homossexualidade nos chama nossa atenção para que jamais nos
esqueçamos desta dinâmica.
"NÃO TEMA A TERAPIA, MAS A UTILIZE PARA A
MUDANÇA DE UM SOFRIMENTO QUE PARECE NÃO TER FIM."
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